Publicado em: 17/05/2025 às 08h15

Maior exportador de frango do mundo, o Brasil registrou o 1º caso de gripe aviária (IAAP) em granja comercial no país. Como consequência, países como China, Argentina e União Europeia interromperam as importações da carne de frango brasileira. Isso pode impactar diretamente o dia a dia dos brasileiros — especialmente no bolso. Produtos como carne de frango e ovos podem ficar mais caros, afetando o orçamento das famílias.

Ao Terra, especialistas apontam que mudanças devem gerar dois possíveis cenários na economia brasileira, sendo um deles o possível aumento nos preços do frango e de outros setores, caso haja mais registros; entenda.
A confirmação foi feita pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O caso aconteceu no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. Segundo o órgão, a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves nem de ovos, ressalta que a população deve se manter tranquila em relação à segurança dos produtos e que medidas de contenção já estão sendo tomadas.

Frango mais caro e menos arrecadação de impostos
Segundo a economista, mestre em Ciências Políticas e professora da FESPSP Daniela Cardoso, os estados que mais produzem frango, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, serão os mais afetados. “Os estados terão a sua economia mais afetada, principalmente a arrecadação de tributos. Assim como os municípios onde estão instaladas as fábricas e os abatedouros de frango. Muito provavelmente nós teremos uma pequena alta [no preço] do frango”, apontou.

“Como Europa, Argentina e China não estão importando mais a carne de frango brasileira, teoricamente, o preço do frango deveria diminuir internamente, uma vez que nós exportamos basicamente 40% do frango e consumimos 60%. Mas, não, muito provavelmente as agências sanitárias brasileiras também exigirão dos frigoríficos, dos abatedouros do Sul do Brasil, o abate desses frangos, diminuindo também a oferta. De forma que nós teremos, durante um bom tempo, um aumento”, explicou Cardoso.

A especialista aponta ainda que, mesmo com todas as medidas sendo tomadas, o mercado externo deve demorar a importar novamente. “Porque eles terão que comprovar, através de questões sanitárias de cada um dos países, que não há realmente mais gripe aviária no Brasil e isso demora. […] O Brasil é o maior exportador de frango do mundo, então nós vamos perder 40% da receita só de frango, que é o total que nós exportamos”, pontuou

Armando Fornazier, agrônomo e mestre em agronegócios da UNB, explica que também pode ocorrer o contrário, uma queda nos valores, mas tudo irá depender da quantidade dos casos.

“Neste ano a tendência é cair o valor dessas exportações, mas se, nesses dois meses, não se identificarem novos casos, e se for observado que a doença não se propagou, seria uma queda pontual, em um curto período de tempo. Ou seja, que o caso da granja no Rio Grande do Sul não dissemine para outros locais”, analisou.

A perspectiva também é compartilhada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Para ele, a gripe aviária deve aumentar a oferta de ovos no mercado brasileiro, provocando uma possível queda nos preços.

“Com a diminuição das exportações de ovos – se bem que é importante dizer que o Brasil exporta só 0,9% da produção de ovos, não tá indo muito para fora do Brasil. O que fez o preço do ovo subir foi a demanda, que estava bastante aquecida. Mas, com certeza, em termos de carne de frango, teremos uma oferta mais abundante do Brasil que pode pressionar os preços um pouco para baixo”, explicou Fávaro em entrevista à GloboNews, nesta sexta-feira, 16.

Impacto na cadeia produtiva
Fornazier aponta que a queda na produção deve afetar outras áreas como a produção de milho e soja e contratos de integração. “A cadeia produtiva de aves é importantíssima para o agronegócio brasileiro. Não só no efeito do consumo, na produção, na venda do frango, mas milho e soja. Grande parte do que um frango consome é milho e soja. […] A diminuição na produção também afeta outras cadeias produtivas no mercado nacional, como a menor necessidade de milho e soja”, explica.

“Há muitos contratados, os chamados contratos de integração, e neles há muitos agricultores familiares, pequenos agricultores, que são parceiros das empresas que têm a estrutura e produzem esses produtos, essas aves, com o material genético das empresas. Então, [a gripe] tem uma importância também muito grande na produção de aves [em toda a cadeia de produção de aves]. É torcer que não seja um caso tão grave, que não dissemine para outros locais, que seja pontual e não cause tantos problemas no agro como todo”, conclui.

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